domingo, 3 de agosto de 2025

Finisterra (2025)

No barlavento algarvio, em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, um avião aliado despenha-se e a neutralidade de Portugal é questionada.
Isto é muito interessante, mas, lamento, isto não tem quase relevância nenhuma para o enredo. O aviador inglês (ou seria americano, já não sei) é devolvido, fim da história da guerra. Tirando alguém que é espião, mas isto também não tem relevância nenhuma, é só pano de fundo.
"Finisterra" é a história de Celeste, que é considerada bruxa pela superstição local, a ponto de ela própria se questionar se tem o "mal". Isto também é interessante, mas a série foi-me vendida como sobrenatural. Ora, lamento, de sobrenatural isto não tem nada. O que se passa aqui é uma bruxa/vidente de província, aparentemente com um livro de São Cipriano e veneno de formigas, a liderar um culto daquilo que na altura se apelidava de satânico, com orgias e bebidas perigosas, mas de verdadeiro satânico também não tem nada. O problema das pessoas deste tempo é que não tinham televisão, nem sequer rádio, nem sabiam ler, e inventavam estas coisas para se entreterem, e quem os pode censurar.
Não estou a dizer que não gostei da série. "Finisterra" criou toda uma atmosfera do que a representação da realidade podia ter sido, sem ser exactamente realista. O fim também foi inesperado, não estava nada à espera daquilo. As cenas da gruta foram um bocadinho "isto deve ter caído aqui de outro filme", mas aceito. No final de cada episódio temos um testemunho verdadeiro de pessoas que viveram na época. Penso que os criadores tentaram inventar uma história que englobasse esses testemunhos.
Os meus problemas com a série não têm a ver com o enredo mas com a execução. Aconteceu-me muitas vezes não perceber o que estava a acontecer. Antes que me venham com desculpas, ter clareza de narrativa não é "guiar o espectador pela mão", é mesmo clareza de narrativa. Por exemplo, ouvimos bombas a cair mas não as vemos, e custou-me perceber que a casa do monte tinha sido atingida. Também não parecia uma casa atingida por uma bomba, para ser franca. Parecia mais chamuscada pela queima de lenha ou algo assim. Isto pode ser por questões de orçamento, e compreendo, mas nesse caso talvez fosse boa ideia ter alguém a verbalizar que a casa foi atingida. Como isso me escapou completamente, perdi partes importantes da lógica das consequências e tive de voltar atrás para ver de novo. Outras coisas não percebi mesmo. Por exemplo, naquele monte algarvio não crescia nada e Celeste era acusada de ser a causadora disso, por ser bruxa. Mas a certa altura vemos a madrinha dela a pôr qualquer coisa no chão, seria sal? Ou seria apenas a viúva a demonstrar o seu ódio pela terra? Sinceramente, não percebi e desisti de perceber. A relação de parentesco também é esquisita. Há aqui muitos pais e muitas mães desaparecidos, e quem era mesmo o pai da outra e do outro afinal, etc.
Mas o que me chateou a sério foram os diálogos que não consegui perceber. Depois de ponderar muito se seria problema de som ou de dicção, uma vez que consegui perceber perfeitamente as palavras de Salazar na rádio, e que até consegui perceber melhor os testemunhos com sotaque e com mau português, e que percebi tudo o que diziam alguns actores, como Miguel Guilherme, tenho de concluir que o problema é mesmo a dicção dos outros actores. Estou a dizer isto como crítica construtiva, a dicção é importante. A naturalidade das falas não as pode tornar incompreensíveis. Já não é a primeira vez que bato nesta tecla, mas faço isto com boas intenções. Afinal, quem beneficia de boas séries sou eu, a espectadora. Custou-me muito acompanhar os diálogos dos actores principais e tenho a certeza de que isto contribuiu para perder o fio à meada da narrativa (isto, e as deficiências da narrativa).
Outro exemplo foi quando os homens andavam a fazer a mó. Desculpem a ignorância, mas só percebi o que eles estavam a fazer no testemunho do final. Durante a cena, porque nunca tinha visto nada semelhante, passou-me pela cabeça se andavam a colocar ou a tirar uma mina (por causa da guerra) ou se estavam a fazer um altar ritual (por causa da bruxaria). Enquanto tentava decifrar o que eles andavam a fazer, e porquê, e como é que se relacionava com o resto, entretanto já tinham passado 10 minutos e mais enredo a que não consegui prestar a atenção devida. Uma vez que isto é uma coisa antiga, talvez pudesse ter sido explicada a espectadores mais novos e citadinos. Por falar nisso, também me custou a perceber o que é que o padrinho de Celeste lá andava a fazer com eles, porque não era o trabalho dele. Se bem compreendi, ele andava a tentar ganhar dinheiro em biscates porque o campo dele não produzia. Ora, juntando a minha ignorância quanto à mó, os diálogos que não percebi, à tentativa de tentar estabelecer ligações entre o enredo da guerra e das bruxas, fiquei ali à nora.
Até aconteceu uma coisa um pouco cómica. Existe um personagem, penso que chamado o Parvo (lá está, custou-me perceber o que lhe chamavam), que vive como maluco selvagem nas grutas da praia. Quando ele apareceu, logo de início, pensei que era outro aviador naufragado antes e afectado das ideias. Quando Celeste o manda ir embora, pensei que estava a mandá-lo esconder-se de alguém que andasse à procura dele para o entregar aos alemães. Inventei isto tudo, admito, porque estava a tentar encontrar um fio condutor entre a história da guerra e a história da protagonista (mas não há fio condutor). Este personagem desaparece completamente e volta a aparecer no fim, quando já não me lembrava dele. Mas ainda estava convencida de que era um aviador naufragado. O Parvo é o único que tem desculpa para não falar como deve ser, mas a parte engraçada é que pensei que ele estava a falar inglês (e eu também não compreendia). Na realidade ele estava a dizer "o mar bate na terra". Mas isto fez-me rir. Esta coisa do aviador escondido também pode ter vindo do "Alô Alô" e de filmes de náufragos, confesso.
A série podia ter sido mais agradável de ver se não fosse isto tudo. Vou ser muito honesta, "Finisterra" pareceu-me, para o bem e para o mal, um daqueles filmes experimentais do cinema português em que o valor artístico é mais importante do que a lógica. Mesmo assim, gostei dos temas principais, da ambiência da época, das partes bem feitas, e acho que vale muito a pena.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: drama, bruxas, séries de época

 

terça-feira, 29 de julho de 2025

Furry Vengeance / A Bicharada Contra-ataca (2010)

Isto é embaraçoso. Vi o filme e fartei-me de rir. Vi outra vez e ainda me ri mais. Este é daqueles filmes para toda a família que têm piadas subtis que só um adulto entende, mas as crianças vão gostar do humor mais imediato.
Uma empresa de empreendimentos que se diz ecológica quer destruir a floresta para construir uma urbanização. Dan Sanders é enviado para lá para supervisionar os trabalhos. Antes dele houve outro responsável que se demitiu depois de uma tentativa de assassinato.
Esta tentativa de assassinato veio dos animais da floresta, liderados pelo guaxinim, que vão fazer de tudo para proteger o seu habitat. O guaxinim consegue infiltrar-se numa reunião entre Dan e o patrão (um milionário chinês, associado de um indiano) em que este apresenta os planos para arrasar a floresta. A primeira coisa que acontece a Dan é a mesma tentativa de assassinato, mas Dan safa-se. Os animais não desistem de lhe fazer a vida negra. Um corvo bica-lhe na janela para não o deixar dormir, levando-o quase à loucura. No dia seguinte, enchem-lhe o carro de doninhas. E a perseguição continua, até que Dan se apercebe do que se está a passar. Tresloucado, diz à mulher (Brooke Shields) que os animais o querem apanhar, que o guaxinim é o cérebro da operação e que o corvo e a doninha são os capangas. A mulher manda-o ao psiquiatra. Mas Dan tem razão, há toda uma máfia organizada de animais que lhe querem fazer a folha e nada os travará.
“Furry Vengeance” é mais engraçado do que devia ser. Surpreende-nos e faz-nos rir com as referências que vai buscar. Até tem um momento Stephen King, quando o filho adolescente revela a Dan que há séculos que as pessoas estão a tentar urbanizar aquela floresta mas que, por alguma razão misteriosa, não conseguem (a razão misteriosa fez-me rir às bandeiradas) e no momento seguinte Dan é de tal modo levado para lá do limite da sanidade que se transforma num autêntico Jack Torrance. Os animais continuam a ganhar até que Dan decide tomar medidas extremas. Será o fim para o habitat da floresta?
Este filme conta igualmente com Angela Kinsey, a Angela de “The Office”. Para quem não se lembra, a Angela do Dwight Schrute. (Para quem viu “The Office” e não se lembra de Dwight Schrute não sei o que vos diga, são um caso perdido.)
O final de “Furry Vengeance” é infantil, mas depois de tantas piadas perversas era altura de dar um chupa-chupa às criancinhas.

16 em 20 (dentro do género) 


domingo, 27 de julho de 2025

Yellowjackets (2021 - ?) [primeira e segunda temporada]


− Porque é que o Travis está a gritar?
− Porque vamos comer o irmão dele.


Uma equipa de raparigas, campeãs de futebol, sobrevive a um acidente de avião que se despenha numa floresta remota. Durante quase dois anos, têm de sobreviver sozinhas na natureza.
Não costumo dizer isto muitas vezes, mas esta série não é mesmo para todos. Logo nos primeiros minutos percebemos que vai haver canibalismo. O interessante aqui é como as adolescentes chegam a esse ponto.
As raparigas passam 19 meses numa região montanhosa, incluindo dois invernos muito frios, em que têm de aprender a caçar e a aproveitar qualquer alimento que consigam encontrar. Mas este não é um grupo de raparigas vulgares. Como se não bastasse a insegurança e o drama dos 17 anos, há duas sociopatas entre elas. Para começar, as sobreviventes nunca estariam desaparecidas se uma das sociopatas não tivesse sabotado a caixa negra do avião, que tinha um localizador a funcionar. Porque é que ela fez isso? Porque no mundo normal não era reconhecida, e ali, na floresta, tem competências que a tornam valiosa aos olhos das outras.
A questão da fome é muito premente e presente. Mas as raparigas nunca decidem recorrer aos extremos de forma ponderada, racional e consciente. Pelo contrário, incapazes de lidar directamente com as implicações do que estão a fazer, acabam por criar um culto e deixar a escolha da vítima sorteada à "Entidade da Floresta". A entidade da floresta não existe, e algumas nunca acreditam nela, mas o culto é única maneira de sobreviver. Estas raparigas são combativas, campeãs, não lhes passa pela cabeça outra opção que não a sobrevivência. O único adulto que sobrevive ao acidente, um treinador de vinte e poucos anos, nunca se junta a elas. Pelo contrário, começa logo a perceber a dinâmica perigosa que se está a criar ali e a temê-las (e com razão). Até os lobos aprendem a ter medo delas.
"Yellowjackets" tem sido comparado a "O Senhor das Moscas" ("Lord of the Flies") na versão adolescente e feminina, e muito correctamente. Rapidamente se gera um clima de terror no acampamento, a selvajaria da lei da mais forte, seja por ser útil ou por ser a que está em contacto com a "Entidade". Ninguém quer abdicar do que está a fazer, mas ninguém quer ser a próxima.
A série não é só sobre as adolescentes na floresta. Vinte e cinco anos depois, seguimos as vidas de quatro sobreviventes que foram resgatadas e regressaram à civilização. Existe um pacto de silêncio entre elas, mas subitamente alguém começa a chantageá-las. Tenho lido críticas a dizer que esta parte da série é a mais interessante, mas não posso concordar. Mulheres desequilibradas e perigosas é sempre um tema fascinante (e já muito explorado), mas adolescentes desequilibradas e perigosas (e canibais) não é uma coisa que se veja todos os dias.
Aproveito para falar das sobreviventes, na versão adulta, que regressaram à civilização.

Taissa
Taissa é a minha personagem preferida. Só não percebo porque é que não era ela a capitã da equipa de futebol, porque Taissa é uma líder nata. (Por acaso é explicado porque é que a capitã era outra, mas não me convence.) Foi uma líder na floresta e é candidata a senadora na actualidade. Isto não é coisa pouca para uma mulher negra, casada com outra mulher negra, nos Estados Unidos. Taissa sempre foi a mais racional e madura do grupo, a que não fechava os olhos à realidade do que se estava a passar, com a perfeita noção de que era uma escolha pela sobrevivência que tinha de ser feita. Talvez por isso, por encarar a realidade de frente, a realidade a tenha sobrepujado. Taissa começou a ter episódios psicóticos e dissociativos em que a "outra Taissa" toma as rédeas. A chantagem traz a "outra Taissa" de volta, o que não é bom para uma candidata a senadora.

Shauna
Shauna é uma sociopata funcional do piorio, daquelas que não o parecem, sonsa e manipuladora. Na floresta, foi ela quem se encarregou de cortar a carne. Na actualidade, é uma dona-de-casa chata, e aborrecida, a precisar de ter um affair para se sentir viva.
As personagens são interpretadas por actrizes diferentes quando adolescentes e adultas, e devo dizer que algumas não me convenceram. Isto não é culpa das actrizes, que são excelentes, e adoro vê-las contracenar umas com as outras na versão adulta e adolescente, mas esta não é a mesma Shauna. Na adolescência, Shauna era brutal e tirânica, uma assassina capaz de matar pessoas só porque não gostava delas, mas na versão adulta finge-se sonsa e inofensiva? É que são tipos de personalidade antagónicos. Não estou mesmo a ver a evolução de uma coisa para a outra.
Se alguma vez conhecerem uma Shauna, fujam.

Misty
Misty é uma sociopata menos funcional, daquelas de quem o próprio Dexter tinha medo (e com quem acabou por casar). Interpretada por Christina Ricci (a Wednesday de "A Família Addams") na versão adulta, Misty é um terror na floresta e é um terror na civilização. Não quero contar o que ela faz, mas li uma sondagem em que as pessoas disseram que Misty era a sua personagem preferida. Quero acreditar que se estão a referir à actriz Christina Ricci, que realmente é extraordinária aqui.
Se alguma vez conhecerem uma Misty, fujam, se forem a tempo.

Natalie

Natalie é outra das personagens que não batem certo na versão adolescente e adulta. A versão adulta, uma ex-toxicodependente, é interpretada por Juliette Lewis. Mais uma vez, não me parece que seja culpa da actriz. Parece-me que a personagem estava sincronizada no primeiro episódio, mas a partir daí as personalidades divergiram e já não são a mesma pessoa. É curioso que as críticas que leio têm dito o contrário, não percebo porquê. Juliette Lewis interpretou Natalie como uma mulher destravada, histriónica, que não pensa nas consequências, que parece que está sempre bêbeda mesmo quando está sóbria, que parece, em suma, uma personagem de "Pulp Fiction", quando a versão Natalie adolescente é uma das pessoas mais sensatas e responsáveis do grupo. Pode-se argumentar que as drogas a transformaram, mas, como no caso de Shauna, não estou mesmo a ver. A Natalie adolescente depois de adulta, como drogada, já teria organizado um negócio em que era ela a traficante. A Natalie adulta é menos adulta do que a Natalie adolescente.

O monstro entre elas
Para quem tiver estômago para tal, "Yellowjackets" é uma série a não perder. O trocadilho não é inocente, há cenas muito perturbadoras com carne, sangue e ossos, e pior. Só há duas maneiras de ver esta série: com repulsa, ou com um desejo súbito de comer carne. Não preciso de saber, não me contem.
O tempo em que o terror não era levado a sério já passou. "Yellowjackets" tem um elenco de luxo. Apesar do tema, tanto a parte da floresta como a parte da actualidade são acima de tudo abordadas como drama. Para mim, a parte da actualidade funcionou como um alívio momentâneo do que se passava na floresta, com influências flagrantes de "Breaking Bad", "Better Call Saul" (com duas homenagens descaradas) e até de "Twin Peaks", mas por esta altura é mais correcto perguntar qual é a série de qualidade que não tenha sido influenciada por estas. Não consegui achar graça às tentativas de humor. Se fosse só sobre mulheres malucas e perigosas, sim, tinha achado graça, mas a tensão de saber o que ia ver no regresso à floresta (e que efectivamente vi) tirou-me a vontade de rir. Adorei a banda sonora dos anos 90, apesar de não ser o meu tipo de música preferido. Desde Smashing Pumpkins a Massive Attack a Nirvana, está lá tudo. Bom para a nostalgia.
Por último, "Yellowjackets" não é só uma série de terror, é também uma análise, de uma perspectiva forçosamente feminina, de uma história de sobrevivência de adolescentes ainda em maturação, ainda a explorarem a sua identidade e sexualidade, ainda não plenamente conscientes das consequências dos seus actos, não apenas para o mundo exterior, mas, sobretudo, as consequências do trauma com que teriam de viver o resto da vida. Estas raparigas não são monstros, mas há monstros entre elas, e há um monstro dentro de cada uma delas.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: drama, terror, canibais, O Senhor das Moscas/Lord of the Flies, Better Call Saul

terça-feira, 22 de julho de 2025

Black Water (2007)

 

“Black Water” é um filme aterrador com um crocodilo.
O casal Grace e Adam, e a irmã de Grace, Lee, estão a passar as férias de Natal na Austrália. Como turistas normais, decidem alugar um barco para pescar e passear no rio numa área de mangal. Estava tudo a correr pacatamente até que um enorme crocodilo de água salgada faz virar o barco e começa por comer o guia turístico. Grace, Adam e Lee conseguem subir a uma das árvores meio-submersas e ficar em segurança, mas quantas horas se podem aguentar lá sem tentar fugir?
O filme é baseado numa história real e é efectivamente muito realista. Aqui não há pessoas a cometerem erros estúpidos e asneiras irresponsáveis. Pode-se argumentar que o guia turístico que se ofereceu para os levar não era tão experiente como o patrão, mas percebe-se que é alguém que conhece o rio e sabe o que está a fazer. O único equívoco é que ele pensa que já não existem crocodilos naquela área, e tudo indica que a presença do réptil se deve à maré mais alta. Depois do incidente, os sobreviventes apercebem-se de que ninguém foi avisado de que tinham saído e para onde iam, mas um dia depois, na ausência do barco e do empregado, o patrão podia ter deduzido isso sozinho. Aliás, a certa altura um barco passa junto deles mas não suficientemente perto. Entretanto estas três pessoas têm de decidir o que fazer. Esperar por um salvamento que pode nunca chegar ou arriscar o rio? Seja como for, a sobrevivência depende de conseguirem sair dali.
Como disse, o filme é muito realista, excepto por um toque quase imperceptível de personificação do crocodilo que parece gostar de olhar as vítimas nos olhos antes de as atacar. Os crocodilos são traiçoeiros, escondem-se e atacam sem que a presa os veja, mas este gosta de provocar. Também gosta de acumular presas antes de as comer, mas, por outro lado, não me apercebi de nenhuma caça grossa no mangal e talvez o crocodilo esteja a apanhar as presas “para a despensa” antes que elas fujam, o que faz sentido. Pessoalmente, gostei desta personificação subtil do crocodilo. Transformá-lo num serial killer incansável torna tudo mais tenso.
A água não é negra mas é turva, e existe aqui muita coisa que pode perturbar as pessoas mais susceptíveis. Eu sei quem é que nunca irá passear num mangal depois de ver isto.

16 em 20


domingo, 20 de julho de 2025

The Babadook (2014)

[contém spoilers]

Os melhores filmes de terror são aqueles que nos fazem perguntar “será que isto podia acontecer comigo?”. Penso que “The Babadook” é um desses.
Amelia é a mãe viúva de Samuel, trabalha a tempo inteiro num lar de idosos, mal ganha para pagar as contas, tem uma dor de dentes que se calhar não pode tratar, anda sempre cansada e privada de sono, e é assombrada por uma tragédia: o pai de Samuel morreu num acidente de viação enquanto a levava para a maternidade. O aniversário de Samuel, que vai fazer sete anos, é também o aniversário da morte do seu pai.
Samuel é uma criança com grandes problemas de comportamento. Quando não se dedica ao ilusionismo, faz birras tremendas e constrói armas improvisadas que leva para a escola. Além disso, insiste que existe um monstro debaixo da cama ou dentro do armário, e passa a noite a acordar a mãe por causa do monstro. É também por isso que constrói as armas, para matar o monstro. Amelia não consegue tirar-lhe a ideia da cabeça, nem fazer com que Samuel obedeça e não leve as armas para a escola. Devido a isso, a escola acaba por expulsá-lo. Amelia fica por sua conta, sem o apoio da irmã que não suporta o comportamento de Samuel, em risco de perder o emprego porque não consegue acordar a horas, sozinha em casa com o filho.
Um dia, Samuel pede-lhe que leia um estranho livro infantil que, segundo ele, apareceu na estante sozinho, sobre um senhor Babadook. Amelia ainda começa a ler quando se apercebe de que não é um livro infantil mas uma história de terror. O Babadook ameaça aparecer e apossar-se de mãe e filho. A princípio Amelia não acredita e tenta livrar-se do livro, até à noite em que o Babadook aparece mesmo.

Spoilers
Não são exactamente spoilers, e eu não costumo fazer isto, mas vou interpretar. Na minha opinião não existe Babadook nenhum, esta é a história de uma mulher levada à loucura que mata o cão, o filho e até a vizinha. Isto não está no filme e alguém mais optimista pode ser levado a acreditar no final feliz, mas, pensando duas vezes, não é um final demasiado feliz para ser verdade? O que me alertou, confesso, foi aquela rosa negra que ela estava a plantar. Rosas negras existem mas são raras. Aliás, todo o esquema cromático do filme é de desconfiar. O negro está presente em todo o lado, até no lar de idosos e no parque infantil. De início não notamos muito, mas eu comecei a estranhar na festa de aniversário que mais parecia um velório. Quando vi o filme outra vez descobri coisas negras em todo o lado: nos armários, no baloiço do parque, até nas roupas e lençóis das crianças e nas pedras do jardim. E depois há o Babadook, que é a versão monstruosa de um ilusionista de capa e cartola. Será que o livro sequer existe?
Passamos o começo do filme a pensar que o problema é o miúdo, mas até que ponto não estamos a ver o mundo pela perspectiva negra e cada vez mais alucinada da mãe? Até que ponto Samuel diz que existe um monstro e começa a fabricar armas para se defender porque pressente que a mãe se está a transformar noutra coisa? Eu tirei as minhas conclusões. Li outras críticas que acreditam que o Babadook é uma metáfora para a dor mas que Amelia nunca chega tão longe. Todavia, se tudo se passou na cabeça da mãe, nada nos diz que o final não possa igualmente ser um delírio. Se a realizadora não gostar de interpretações ambíguas não devia ter introduzido a ambiguidade.
Um especial destaque para as interpretações de Essie Davis como Amelia e do jovem Noah Wiseman como Samuel. São completamente impressionantes e quase chegam para contar a história.
Ou o espectador pode preferir acreditar em contos de fadas e finais felizes.

15 em 20 (da maneira em que eu interpreto, menos um ponto pela ambiguidade)

 

terça-feira, 8 de julho de 2025

Exorcist II: The Heretic / Exorcista II: O Herege (1977)

Encontrei este filme num canal de cinema e fiquei em choque. Não me lembrava mesmo nada de o ver, o que só pode querer dizer uma de duas coisas: ou tinha perdido a sequela de “O Exorcista” com Linda Blair e Richard Burton, ou vi e é uma porcaria. Infelizmente, é a segunda opção.
Começa com o padre Lamont (Burton), um exorcista, a ser incumbido da investigação da morte do padre Merrin, que morreu durante o exorcismo de Regan MacNeil. As autoridades da igreja estão motivadas a dizer que Merrin morreu porque era um herege, que se lançou voluntariamente para as mãos de um demónio, se ninguém limpar o seu nome.
Regan é agora uma adolescente feliz e normal (e uma Linda Blair muito mais crescida e rechonchuda) que alega não se lembrar de nada do que se passou na altura, embora a mãe a obrigue a fazer psicoterapia. É exactamente nesta psicoterapia que Lamont e Regan decidem ser submetidos a hipnose, o momento mais aterrador do filme porque eu já não suportava aqueles holofotes a apagar e a acender e acho que se me forçassem a olhar para eles também começava a ver demónios. Mas avancemos. 

  

Sim, esta cena aconteceu. Não me perguntem, eu também não sei o que se passa aqui.

Nesta hipnose, Lamont desconfia que Regan já não está possuída mas que ainda tem uma ligação inconsciente com Pazuzu. Através desta ligação, Lamont descobre que Merrin exorcizou um outro jovem, Kokumo, em África. O que é que Kokumo tem em comum com Regan? Ambos aparentam ter poderes de cura. Assim, foram possuídos porque são “do Bem” e Pazuzu fez deles um alvo. Lamont vai para África à procura de Kokumo e comete a tremenda estupidez de dizer aos nativos que ouviu falar dele através de Pazuzu. Quase é apedrejado e tem de fugir. Por alguma razão, Lamont decide então invocar Pazuzu para encontrar Kokumo, agora um cientista que estuda pragas de gafanhotos, um símbolo de Pazuzu que, ficamos a saber, é um Espírito do Ar.
Depois disto tudo, Lamont regressa à América e decide levar Regan à casa onde o exorcismo se passou. Lá, Pazuzu aparece na cama em forma de Regan, tentando Lamont sexualmente, e a certa altura temos uma cena em que Burton está a beijar a falsa Regan enquanto a verdadeira Regan olha com repulsa. E não é preciso contar mais nada porque já é suficientemente mau.
“Exorcist II: The Heretic” é um filme confuso e rebuscado que só foi feito para lucrar com o original e, digo eu, explorar a natureza sensual de uma Linda Blair adulta e bem desenhada (daí o beijo, e os vestidos de Blair a mostrar-lhe perfeitamente as formas, etc). Em suma, este filme é um verdadeiro horror no pior sentido. Sim, acho que afinal até o vi, mas recalquei a memória traumatizante para não manchar “O Exorcista” no meu inconsciente. Ainda por cima é um filme chato em que não acontece nada apesar das voltas todas que dá. As únicas cenas que nos conseguem assustar foram “fabricadas” a partir do original, e a única parte que nos impressiona é o regresso à casa, porque é lá que está o que nos aterrorizou e o filme sabe disso e quer explorar-nos também. Não há nada que aconteça aqui que tenha pés e cabeça. Porque é que Regan aceitaria voltar à casa depois de se lembrar de tudo? Como é que Lamont, um exorcista, se põe a invocar o demónio que matou o homem cujo nome quer limpar (tornando-o no verdadeiro “herege” da história)? Porque é que Pazuzu se manifestou em forma de Regan em vez de possuir a Regan de carne e osso que estava ali mesmo ao lado? Porque nem Pazuzu quer ter nada a ver com este enredo.
O pecado mortal do filme, no entanto, o que o tornou blasfemo para mim, foi ter tentado explicar que Regan foi possuída por ser tão boazinha. Ora, o que torna o “O Exorcista” um filme aterrador é que não há razão. Um demónio consegue apossar-se de uma criança porque pode, ponto final. A ser levado a sério, este filme destruiria tudo o que o original representou. Por esta razão, declaro que “Exorcist II: The Heretic” é uma heresia que nunca devia ter visto a luz do dia.
A única virtude desta monstruosidade foi ter fornecido informação sobre a natureza de Pazuzu, que acabou por ser melhor aproveitada em filmes posteriores. As cenas em África têm uma beleza e uma atmosfera inquietante, concedo-lhe esse mérito. Tirando isso, se não viram, ou esqueceram, também não vale a pena ir ver excepto por uma questão de arqueologia cinematográfica.
Falando em arqueologia, se calhar o filme até merece ser visto só por causa da moda dos anos 70. Os vestidos de Regan parecem camisas de dormir e a certa altura ela usa um macacão de calções em cetim brilhante que parece um pijama. Tendo em conta o contexto, eu acreditei mesmo que a miúda tinha saído para a rua de pijama porque estava perturbada, mas não, é mesmo a moda da época. Apavorante.

10 em 20 (para ser boazinha como Regan)

 

domingo, 6 de julho de 2025

The Conjuring 3: The Devil Made Me Do It / The Conjuring 3: A Obra do Diabo

Actualmente, em todos os filmes que tenham a mão de James Wan, fico à espera de ver o diabo chifrudo ou outro semelhante. “The Conjuring 3” surpreendeu-me por ser tão contido nesse aspecto. Por outro lado, o enredo é longo e complicado e confesso que tive de ver o filme duas vezes porque da primeira acabei por perder o fio à meada.
Seguimos mais uma vez as aventuras do casal real/ficcional Ed e Lorraine Warren no que o filme promete “um dos casos mais chocantes das suas carreiras”, mas até disso tenho dúvidas. A história começa com o exorcismo de um miúdo de oito anos, possuído. A certa altura durante o exorcismo, o namorado da irmã do miúdo, Arne, pede ao demónio que deixe o miúdo e o possua a ele. O demónio faz-lhe a vontade. Dias depois, possuído, Arne mata o senhorio à facada. No momento seguinte Arne volta a ficar normal. Depois de ser examinado pelos Warren, estes concluem que Arne já não está possuído. Então, para onde foi o demónio? Entretanto, a advogada de Arne, com a ajuda dos Warren, monta uma defesa baseada no argumento “inocente por possessão demoníaca”, que segundo li aconteceu mesmo. A defesa não pegou mas Arne foi condenado a uma pena mais leve do que teria sido de outra maneira. Esta é a parte histórica do filme, mas há mais.
Voltando ao demónio. Os Warren descobrem que houve uma “possessão por encomenda”, isto é, que a possessão aconteceu por ordem de um ocultista de uma seita satânica. Começa aqui a parte do filme que é quase um policial, em que os Warren têm de seguir pistas para chegar à seita. Inclusivamente, juntam-se à polícia na investigação de duas raparigas desaparecidas que envolvia contornos semelhantes. É aqui que o filme se torna longo e complicado, porque enquanto andamos à procura das raparigas e atrás do ocultista quase nos esquecemos de Arne, e quando finalmente voltamos ao início quase nem nos lembramos de quem ele é. Foi por esta altura que perdi o fio à meada mas admito que a culpa possa ter sido minha.
“The Conjuring 3” introduz esta faceta de “policial” nos filmes “Conjuring” de que não desgostei, especialmente das passagens em que os poderes psíquicos de Lorraine ajudaram a desvendar o crime. A nível de terror propriamente dito, tirando as cenas de exorcismos que são sempre aquilo que são (mais ou menos efeito especial), pode haver este ou aquele pormenor que nos fique na cabeça, como a mão na cortina da banheira ou o colchão de água, mas não encontrei nada de particularmente assustador (a culpa também pode ser minha).
O que é certo é que o casal fictício Ed e Lorraine Warren (ou melhor, a química entre os actores Patrick Wilson e Vera Farmiga) funciona muito bem. Se isto fosse uma série eu era capaz de assistir a episódio após episódio só para os ver a resolver crimes e mistérios sobrenaturais, essa é que é essa.

13 em 20

 

terça-feira, 1 de julho de 2025

Black Water: Abyss / Black Water: Abismo (2020)

Este é mais um filme sobre o que nunca fazer quando se vai em aventuras. Dois casais e um amigo decidem ir explorar um sistema de caves remoto e desconhecido no norte da Austrália. Para tal, têm de descer um poço inexplorado. Como eu já tinha dito AQUI, quando se desce por um buraco perigoso é conveniente que uma das pessoas fique à superfície não vá o diabo tecê-las, de preferência com um rádio de longo alcance para chamar ajuda se for preciso e se ficarem sem rede de telemóvel, e especialmente quando se aproxima uma tempestade tropical, o que é mesmo o caso. Mas os nossos amiguinhos acham que não vai ser nada e enfiam-se todos pelo buraco abaixo. Entretanto a tempestade abate-se sobre a superfície e as paredes da gruta subterrânea começam a verter água aqui e ali, mas Cash, o solteiro e guia turístico, diz que são só infiltrações sem importância.
Na verdade os amigos atravessam grutas muito húmidas e apertadas até chegarem a uma grande galeria com um lago subterrâneo deslumbrante. Cash já está a pensar em fazer muito dinheiro com a descoberta quando percebem que não estão sozinhos: um crocodilo monumental patrulha o lago, e os amigos encontram restos de turistas a boiar. (Aqui pode-se perguntar como é que o crocodilo foi lá parar, mas há uma explicação.) Quando tentam sair por onde entraram, uma grande enxurrada (resultado da tempestade) entra pela caverna adentro e cobre a saída. Agora alguém tem de nadar debaixo de água pela gruta inundada e tentar sair da caverna para pedir ajuda, sem ser apanhado pelo crocodilo. Pior ainda, a água não pára de subir, o que significa que em breve o crocodilo vai conseguir chegar às rochas mais altas onde os amigos procuraram abrigo. É uma corrida contra o tempo.
O filme ainda mistura um bocadinho de drama: a mulher de um casal está grávida do homem do outro, e há algumas discussões a três quando a namorada traída descobre, mas, sinceramente, o que é que isto interessa quando estão a minutos de morrerem afogados ou de serem comidos por um crocodilo?
O que gostei neste filme é que não envolve criaturas subterrâneas desconhecidas, ou alienígenas, ou empresas científicas à procura de recursos milagrosos, ou missões militares com propósitos obscuros, etc. É tudo muito simples: pessoas normais, um crocodilo normal, uma tempestade normal, e já faz dano que chegue.
Como em todos estes filmes de grutas não faltam as passagens claustrofóbicas e os momentos debaixo de água de suster a respiração, e como em todos os filmes de crocodilos não faltam as cenas arrepiantes em que… sabem o quê.
Simplesmente preferia que os personagens, apesar de não serem espeleólogos profissionais (tirando um), tivessem demonstrado mais bom senso, e já não ficariam fechados numa caverna inundada com um crocodilo, e nós já conseguiríamos importar-nos com o que lhes acontece.

13 em 20


domingo, 29 de junho de 2025

The Chameleons + Decline And Fall - RCA, Lisboa,18.Jun.2025 - Uma noite muito calorosa / A night of warmth

Publicado no Pórtico:

Decline And Fall
Confesso que não consegui preparar este concerto. Geralmente tento procurar a música das bandas que não conheço, mas meteu-se uma coisa e outra coisa, e esqueci-me. Ainda por cima sou daquelas pessoas que não conseguem avaliar música nova à primeira audição, que foi efectivamente o que aconteceu no concerto. O que consigo perceber imediatamente é se o tipo de som me interessa, e de facto interessou.
Por isso fiz batota. Cheguei a casa e fui ouvir o Bandcamp desta banda de Lisboa. Os Decline And Fall fazem um post-punk/darkwave contido, sombrio e melancólico, por vezes algo ambiental, não exactamente dirigido às pistas de dança. A sonoridade merece ser descoberta aqui:
https://declineandfallmusic.bandcamp.com

Decline And Fall, RCA, Lisboa, 18.Jun.2025 - Foto de DJ Asura Sunil / Photo by DJ Asura Sunil


The Chameleons
Os Chameleons arrancaram às 21h30 com o poderoso "Mad Jack". Estava uma noite quente, daquele calor húmido e abafado que se pega à pele. O concerto estava esgotado e o RCA estava cheio. Mark Burgess apresentou-se só com um colete, e pela segunda canção já todos em palco transpiravam, e nós também. A esta hora ainda deviam estar mais de 20 graus na rua depois de um dia que chegou quase aos 40. Mais tarde, de madrugada, haveria chuva e trovoada. Apesar do ambiente tropical, ninguém esmoreceu, na medida do possível.
O público sabia ao que vinha e foi sempre entusiástico. Os Chameleons não desapontaram. Mark Burgess está em forma e a voz continua excelente. Tivemos hits atrás de hits como "The Fan And The Bellows", "Up The Down Escalator", "Soul In Isolation", "Swamp Thing" (a canção que teve mais coro do público), "In Shreds", "Monkeyland", "Second Skin", "Don't Fall", todos clássicos tocados com arranjos diferentes, como se espera ao vivo. A canção mais recente, "Saviours Are A Dangerous Thing", do novo álbum a ser lançado em Setembro, chegou no encore.
Ainda bem que não preparei este concerto, por exemplo, assistindo a YouTubes de concertos recentes. Durante "Soul In Isolation", Mark Burgess incluiu letras de outras canções, numa espécie de medley, como "For What It's Worth" de Buffalo Springfield, "Eleanor Rigby" dos Beatles e "There Is a Light That Never Goes Out" dos Smiths. Foi uma surpresa, como eu gosto, sem spoilers!
Mark Burgress esteve igual a si próprio, carismático, simpático, efusivo e brincalhão, sempre a manifestar apreço pelo público, mas o fim eu não esperava. Ser simpático e agradecer é uma coisa, vir para o meio do maralhal, com aquele calor, toda a gente a transpirar, cantar "Rebel Rebel" de David Bowie como recheio de "Don't Fall", é mesmo de punk à antiga. Ninguém pode ter saído do RCA desiludido.
Da primeira vez que vi os Chameleons, versão Chameleons Vox, no Santiago Alquimista em 2010, fui para lá "arrastada" por amigos sem saber que gostava tanto dos Chameleons como de facto gostava. Saí de lá uma fã. Desta vez já entrei fã e saí ainda mais fã. Quanto mais conheço, mais gosto. Tem sido uma relação saudável de apreço e confiança construída ao longo dos anos, ao contrário da minha relação tóxica com determinada banda que não vai ser mencionada.
Deixo apenas uma pergunta: temos mesmo a certeza de que os Chameleons não conseguiriam encher os Coliseus? Tanto o RCA como o Santiago Alquimista são salas para uma banda de menor dimensão, já para não contar com o Rock Rendez Vous em 1983 onde iam as bandas novas e desconhecidas. Mas actualmente os Chameleons são uma banda de culto. Não mereciam os Coliseus? Ou será que hoje em dia os preços dos bilhetes num Coliseu o tornam proibitivo? Sinceramente, não sei. Custa-me não ver os Chameleons no Coliseu.


A night of warmth

 
Decline And Fall
I confess that I wasn't able to prepare this concert. Usually I try to look up the bands I don't know, but there came one thing after another, and I forgot. On top of that, I'm the kind of person that is incapable of properly evaluating new music on a first listen, which was the case. What I can tell immediately is whether the music interests me, and in fact it did.
So I cheated. I came home and listened to their Bandcamp. Decline And Fall, a band from Lisbon, make a restrained, sombre and melancholy post-punk/darkwave, somewhat into ambient at times, not exactly directed at the dance floor. Their sound deserves to be discovered here:
https://declineandfallmusic.bandcamp.com


The Chameleons
The Chameleons started at 9.30pm with the powerful "Mad Jack". It was a hot night, with that kind of humid and stifled heat that sticks to one's skin. The concert was sold out and the RCA was full. Mark Burgess came on stage wearing only a vest, and by the time of the second song everyone on stage was sweating, and so were we. At this hour the temperature was still over 20ºC outside after reaching almost 40ºC during the day. Later, at dawn, there would be rain and thunder. Despite the tropical conditions, everyone stood firm, as much as possible.
The audience knew what they had come for and was enthusiastic from the first moment. The Chameleons did not disappoint. Mark Burgess is in shape and his voice remains excellent. We had hits after hits like "The Fan And The Bellows", "Up The Down Escalator", "Soul In Isolation", "Swamp Thing" (the moment the audience sang louder),"In Shreds", "Monkeyland", "Second Skin", "Don't Fall", all classics played with different arrangements, as expected. The most recent song, "Saviours Are A Dangerous Thing", from the new album due in September, was played during the encore.
I'm glad I did not prepare this concert, as in watching YouTubes of recent gigs. During "Soul In Isolation", Mark Burgess included lyrics from other songs, in a kind of medley, "For What It's Worth" by Buffalo Springfield, "Eleanor Rigby" by The Beatles and "There Is a Light That Never Goes Out" by The Smiths. It was a surprise, just the way I like it, no spoilers!
Mark Burgess was his usual self, charismatic, friendly, effusive and playful, always expressing his appreciation for the audience, but I had not foreseen the ending. Being nice and appreciative is one ting, stepping into the midst of the crowd, in that heat, everybody dripping, to sing David Bowie's "Rebel Rebel" in the middle of "Don't Fall", that's old school punk. No one could have felt disappointed as they left the RCA.
The first time I saw The Chameleons, as Chameleons Vox, at Santiago Alquimista in 2010, I was "dragged" there by friends, not knowing I liked The Chameleons as much as I actually did. I left there a fan. This time I arrived a fan and left a bigger fan. The more I know them the more I like them. It's been a healthy relationship of appreciation and trust built over the years, unlike my toxic relationship with a certain band that shall not be named.
I end with a question: are we really sure The Chameleons would not fill the Coliseus? Both RCA and Santiago Alquimista are smaller band venues, not counting Rock Rendez Vous in 1983, where new and unknown bands came to play. But nowadays The Chameleons are a cult band. Wouldn't they deserve the Coliseus? Or is it that nowadays the ticket prices in Coliseu make it undoable? Honestly, I don't know. I regret that The Chameleons don't play at the Coliseu.

sábado, 21 de junho de 2025

“Lethes”, novo livro de D. D. Maio – PUBLICADO!


“Lethes”, um livro de D. D. Maio, encontra-se disponível em papel e ebook (formato epub).

Link: www.bubok.pt/livros/268378/lethes

Sinopse

Reena dá o último passo em direcção ao abismo. Etha faria tudo para conseguir segui-la, se lhe fosse permitido. Duas mulheres tão opostas, ambas anseiam por beber das águas do esquecimento.

Mil anos antes
Um rapaz órfão cria três águias que salvou de um penhasco. Alvo de admiração pelo feito improvável, a sua lenda não termina aqui. Já homem maduro e mercador experiente, decide expandir o comércio às tribos bravias a norte do Antigo Império. Todos o consideram insensato mas nada demove a ambição de quem escalou falésias. Em terras pagãs, conhece uma jovem sacerdotisa caída em desgraça. O novo reino que emerge dos escombros do passado nunca mais será igual.


“Lethes”, um drama em Low Fantasy com grande componente sobrenatural, continua a série iniciada em "Nepenthos", "Miasma", "Solstício" e "Elysion".

LETHES
© 2025 D. D. Maio
Formato papel: 150 x 210 mm
Nº de páginas: 244
Bubok, print on demand
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Formato ebook em epub

 Disponível em www.bubok.pt
www.bubok.pt/livros/268378/lethes


Contacto: d.d.maio.email@gmail.com
Página: ddmaio.blogspot.com


A autora agradece desde já toda a divulgação, resenhas/reviews e avaliações no Goodreads.
www.goodreads.com/author/show/19718238.D_D_Maio